Os desafios de educar

 


Os desafios de educar

Por Adriana Kairos

 

             Os desafios de educar foi o tema do bate papo com a psicóloga Letícia Oliveira e as mães dos alunos do reforço escolar do AKairos Curso no Complexo da Maré.

A Maré é um dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro. Com aproximadamente 140 mil habitantes e dividida em 16 comunidades com um IDH de 0,722, de acordo com os dados do ultimo censo Maré 2019. A Maré é um espaço repleto de desafios para se viver, além dessas características e da violência já conhecida e amplamente divulgada pelos veículos de imprensa, a Maré, como outros espaços periféricos, tem sofrido com a miséria gerada pelo desemprego causado pela crise do Corona Vírus.

A pandemia também acentuou os problemas de acesso à educação. Com o sistema remoto de educação, as famílias com menor poder aquisitivo se viram impedidas de sonhar com um futuro melhor para os seus filhos. Mas afinal, favelados tem direito a sonhos?

É interessante observar como aqueles que "vivem no asfalto" trazem no subconsciente a ideia de que nós, moradores de favela, estamos acostumados com a escassez de sentimentos. É comum ouvirmos discursos entre patrão e empregado dizendo: “Ah Maria, você já está acostumada com aquele tiroteio. “Ah José, você já está acostumado com a falta de luz.” “Ah Severina, viver sem coleta de lixo não é espanto pra você.” ”Ah seu Antônio, não tem problema seu filho ficar sem escola por conta de operação, não é verdade? A criança nem gosta de estudar.” E agora na pandemia, alguns dos mais brutais discursos: A patroa diz a empregada doméstica de que ela não vai pra casa cuidar de seus filhos. A patroa precisa da empregada na quarentena para cuidar do seu único filho em detrimento dos três da trabalhadora. Esse foi um fato real que aconteceu com várias mulheres aqui na Maré.

Não são todos os patrões ou “moradores do asfalto” que pensam dessa forma ou reproduzem esse discurso, mas os que fazem, reproduzem pedagogicamente e covardemente aos seus filhos esse pensamento/discurso. No entanto, sendo a escassez uma presença tão constante em nossas vidas, mesmo assim, muitos de nós ainda preenchemos esse vazio com sonho de um futuro diferente pelomenos para os nossos filhos.                               

Pensando em todas essas coisas, mas principalmente nos desafios de educar e preservar os sonhos dos pais e responsáveis das crianças e adolescentes do AKairos no Complexo da Maré que convidamos a psicóloga e doutoranda da PUC, Leticia Oliveira para bater um papo presencial, gostoso e descontraído, mas com distanciamento e todas as medidas de segurança sobre os desafios de educar.

O AKairos atende hoje a 30 famílias, mas com capacidade de atender a mais 60 com total segurança. por conta das medidas de distanciamento, oferecemos 10 vagas para esse encontro. Tivemos um lindo encontro de mulheres. Oliveira se apresentou de forma acolhedora e convidou as presentes a fazer o mesmo e compartilhar um pouco das suas maiores preocupações como mãe naquele espaço. E que impressionante foi ouvir quase a uníssono que a culpa e a responsabilidade por algo dar certo ou errado eram as coisas que mais as afligia. Tudo o que essas mulheres mais desejam, ou melhor, sonham é com um futuro de melhores e diferentes oportunidades para os seus filhos. Qualquer mãe, de qualquer classe social espera coisas boas para os seus filhos, ainda mais aquelas que driblam a escassez todos os dias para transformar um pouquinho que seja o destino dos seus pequenos.

Leticia lembrou a todas de que apesar de serem grandes guerreiras, elas também são humanas e de que é natural não dar conta de tudo. Falou da grande importância de se educar através do exemplo e concluiu com uma linda fala sobre o autocuidado.

Afeto, cuidado e acolhimento são as chaves para a educação integral de qualquer indivíduo em qualquer espaço social.

O Akairos Preparatório agradece imensamente e mais uma vez a presença e a contribuição de nossa querida psicóloga Letícia Oliveira que com afeto e carinho cuidou e acolheu essas mães trabalhadoras naquela tarde/noite tão linda que foi o dia 29/05. Gratidão, Letícia.

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