A diferença entre dificuldade e distúrbio: Uma experiência pessoal

 

A diferença entre dificuldade e distúrbio: Uma experiência pessoal

Por Adriana Kairos

Toda favela é composta de alguns personagens que são característicos e formam parte da economia local, o tio do bar, a senhorinha que faz conserto de roupas, o moleque do lava jato, dentre tantos outros trabalhadores que a sua maneira vão driblando as adversidades de viver num território conflagrado e com pouca ou nenhuma assistência do Estado. Entre esses trabalhadores estão as “explicadoras”, normalmente são moças que terminaram o curso de formação de professores, ou tão somente o Ensino Médio Regular. E que por conta da falta de colocação no mercado de trabalho, se aventuram a explicar os deveres de casa de algumas tantas crianças que puderem juntar num espaço, nem sempre adequado, de suas casas.

Grande parte dessas moças não fazem ideia do que estão fazendo e acabam por prejudicar ainda mais o processo de ensino-aprendizagem, muitas vezes complexo, de algumas crianças por ignorar, de certa medida, a diferença entre dificuldades e o distúrbio ou transtorno de aprendizagem.  

Sem generalizar, é importante que se diga que nem mesmo alguns professores formados sabem com clareza a diferença entre dificuldade e distúrbio ou transtorno de aprendizagem, muito provavelmente essa trabalhadora informal também não dispõe desse conhecimento. De acordo com pesquisas recentes, a saber artigo de SILVEIRA e GURGEL GIANETTI (2011), Mau desempenho escolar, uma visão atual, cerca de 15 a 20% das crianças brasileiras têm baixo rendimento nos primeiros anos da vida escolar, se levarmos em consideração os seis primeiros anos da escolarização formal esse índice aumenta apresentando o expressivo percentual de 50% de nossos estudantes com baixo desempenho escolar.  Ainda de acordo com esse artigo, o baixo desempenho escolar está associado a alguns aspectos fundamentais como: individual, familiar, escolar e social. Como consequência, esse indivíduo será afetado emocionalmente, sua autoestima será diretamente comprometida nesse processo acarretando problemas como ansiedade e até mesmo depressão. Assim, fica claro que dificuldades de aprendizagem têm a ver com o que está no exterior do indivíduo, ou seja, tem relação com situações socioeconômicas, socioculturais, metodologias pedagógicas, entre outras. Em contra partida, distúrbios ou transtornos de aprendizagem tem relação direta com o interior do indivíduo, com aquilo que não se pode diagnosticar clinicamente com num exame de radiografia por exemplo, ou seja, o distúrbio tem a ver com fatores neurobiológicos. Desta forma, não é o mesmo gostar e levar jeito com crianças e ser um professor com formação especializada e continuada.

Existe, principalmente entre famílias com baixa escolarização a ideia de que qualquer pessoa que tenha um pouco mais de instrução pode ensinar, independente da sua formação acadêmica. A partir dessa lógica é possível inferir que tais indivíduos não se importariam de tratar um câncer com um açougueiro.  Afinal, o açougueiro disse que sabe como fazê-lo pois aprendeu num tutorial do YouTube, e além disso, o seu atendimento é bem mais em conta do que o do oncologista. Pense só na economia.

E acreditando nesse tipo de pensamento e máxima, um número cada vez maior de crianças e adolescentes com dificuldades, ou mesmo distúrbios de aprendizagem circulam de explicadora em explicadora sem que as verdadeiras causas do seu baixo rendimento escolar sejam tratadas e superadas com a ajuda qualificada e especializada para isso.

Fui uma criança favelada que teve muitas dificuldades de aprendizagem e minha mãe foi essa mulher de poucos recursos e instrução que entendia que só a Educação seria capaz de mudar o destino de toda a nossa família. Contudo, ela buscava ajuda entre as pessoas que ofereciam esse serviço com o valor mais em conta sem perceber que me entregava nas mãos de pessoas incrivelmente despreparadas. Lembro-me bem da minha primeira explicadora, chamava-se Leila, uma jovenzinha que trabalhava num escritório no centro da cidade e que dava explicações para complementar a renda para comprar o seu enxoval de casamento. As aulas aconteciam sempre na cozinha da casa de sua mãe, entre temperos e cheiro de gordura. Os encontros começavam sempre às 17h30, horário em que sua mãe preparava o jantar pois afinal ela chegava faminta do trabalho. Leila nunca conseguia chegar a casa no horário combinado por causa do transito, dizia ela, e por isso, a moça nunca pôde me explicar como fazer as tarefas. Tão somente me dava as respostas e pronto. Com a proximidade da cerimônia, ela dispensou as quatro crianças que atendia na cozinha de sua casa e minha mãe foi obrigada a buscar outra pessoa para me ajudar.

Hoje, analisando o meu caso com a experiência e a expertise que a minha formação acadêmica e continuada me deram, percebo que as dificuldades de então nunca haviam sido devidamente observadas nem tampouco levadas em consideração a luz da ciência para que fossem tratadas. Eu sofria de ansiedade por uma série de motivos, o que dificultava demais o meu processo de aprendizagem. Minha mãe continuava a buscar pessoas para me ajudar, ela tinha a melhor das intenções. E aqui quero deixar claro, que não é possível fazer juízo de valor em relação as explicadoras, pois cada um de nós sabe bem de suas necessidades. Dentro de um sistema econômico como o nosso, cada um de nós busca a maneira mais digna de ganhar o seu sustento. Nasci, cresci e vivo na base da pirâmide, sei bem como essas coisas funcionam. No entanto, é necessário que haja uma reflexão do que cada trabalhador ou profissional que se propõe a trabalhar com ensino faz em sua prática.

Quando criança vivi de tudo: Explicadora que não sabia a matéria e para disfarçar sua falta de conhecimento, me dava pipoca e ligava a TV para passarmos as tardes vendo séries como A Feiticeira e Jeannie é um Gênio. Até hoje sei tudo sobre os episódios dessas séries, mas tive grandes dificuldades para aprender dizima periódica.

Explicadoras que me obrigavam a cuidar de seus filhos pequenos e arrumar suas casas, outras que deixavam um grupo grande de crianças na laje, no sol quente fazendo os deveres da escola sem qualquer explicação enquanto elas ficavam no portão a namorar. No entanto nada me marcou mais do que a sensação que eu tinha de incapacidade. Todas as vezes que minha mãe questionava a essas trabalhadoras o porquê de sua filha não aprender, a resposta era sempre a mesma: “Ela é bem burrinha.” Após ouvir isso de umas tantas explicadoras e de algumas professoras na escola, minha mãe decidiu que não iria mais gastar os seus poucos recursos com isso. “O que eu podia fazer por você, filha, eu já fiz. Agora é contigo sozinha. Força e sorte.” Lembro-me bem desse dia e dessas palavras, eu tinha 10 anos, e estava na 4 série.

Essa atitude de minha mãe não é diferente a de muitas mães trabalhadoras na favela. A falta de recursos, de instrução (em alguns casos) e por fim, de orientação adequada, faz com que muitas crianças que necessitam de ajuda especializada não as receba e no pior dos casos, acabam por agravar ainda mais a situação.

É comprometendo um futuro inteiro que poderia ser diferente.

O AKairos Curso é uma unidade de educação complementar, uma escola de cursos livres que oferece Reforço Escolar, Preparatórios para Concursos e Ensino de Idiomas. Através da metodologia construtivista, com o apoio de uma equipe multidisciplinar, nossos alunos são levados a construção do conhecimento mediados por uma equipe de professores formados e capacitados num ambiente adequado e leve para o melhor desenvolvimento deste indivíduo. Mais de 9 anos de atuação, mais de 600 alunos já passaram por um de nossos cursos e mais de 98% de aprovados em concurso e escolas regulares. Nossas principais características são o respeito e a responsabilidade com o nosso trabalho. Tendo como centro do nosso projeto pedagógico nossos alunos e suas necessidades observadas de maneira individualizada. Por essa razão nossas turma são reduzidas para que esse processo de observância e facilitação no processo de ensino-aprendizagem aconteça de forma mais fluida e assertiva.

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