Pandemia, [des]aprendizagem e futuro
Pesquisas recentes já apontam para o grande prejuízo que a falta de aulas durante a pandemia do novo Corona Vírus trouxe aos estudantes brasileiros, mais especialmente os alunos de origem popular. Que as aulas remotas foram a solução possível para esse momento, isso não se discute. Mas como fazer agora com esse contingente gigante de crianças, adolescentes e jovens "desaprendidos"?
Torna-se redundante repetir aqui os resultados das pesquisas em todo País quando temos em casa, no meu caso na minha própria sala de aula, estudantes desmotivados e sem perspectivas frente às dificuldades que têm encontrado na volta às aulas chamadas híbridas, que é quando parte da turma assiste aulas presenciais e a outra parte segue de forma virtual, intercalando essa configuração semanalmente. Isso tem acontecido nas escolas públicas e algumas escolas privadas de bairro. Se antes da pandemia a questão da Educação em nosso país já não vinha lá essas coisas, a educação de qualidade era coisa para poucos privilegiados, agora mesmo é que a situação parece ter descido ladeira abaixo. Os estudantes das classes mais baixas parecem caminhar sempre com um grande ponto de interrogação na testa. O pouco que apreenderam na escola antes da pandemia parece ter se esvaído como água entre os dedos. O distanciamento das salas de aula fez com que nossos estudantes desaprendessem todo o pouco que já haviam assimilado, a ponto de algum deles haver esquecido como se escreve o próprio nome. E não estou falando de crianças em fase de alfabetização, falo de adolescentes do sétimo, oitavo e nono ano. Chocante, não acham? Pois é. É assim que está o futuro do nosso país. São esses meninos e meninas que daqui a quatro ou seis anos estarão aptos a votar.
Não raro, famílias me procuram para contar dos seus desalentos com relação à escola e a educação de seus filhos e muito pouco ou nada podem fazer diante de tantos obstáculos encontrados pelo caminho. Como julgar um pai que me procurou e disse que tem mesmo é que pôr o seu filho de 14 anos para trabalhar porque, de acordo com este senhor “escola não dá dinheiro”. Frente a fome e a miséria o mais urgente é aplacar a dor das tripas. Mas alguém pode dizer que é bonito ver essas crianças tomando “responsabilidade”, desde cedo, e logo que ele puder voltará a estudar. Sinto pena de quem diz uma coisa dessas, pois certamente ainda não tirou as vendas dos próprios olhos.
Comecei a trabalhar aos 15 anos, muito mais por insistência minha, uma adolescente favelada que queria conhecer o mundo, que não por necessidade absoluta, como tem sido o caso de alguns adolescentes nesta pandemia. Apesar de sempre ter gostado de ler e estudar, só consegui voltar aos bancos escolares após mais de 15 anos. Você faz ideia do que é esse tempo todo na vida de um jovem? Eu consegui voltar à sala de aula, estudar e me formar. Mas nem todos os meus companheiros que tomaram a mesma decisão no passado, de parar os estudos, conseguiram voltar. Muitos talentos se perderam no caminho, e é isso que me move hoje e sempre.
É por esse motivo que estou aqui, mais uma vez e sempre passando o pires.
Esse ano, 2021, o AKairos Curso tem intensificado o trabalho com o reforço escolar ajudando cerca de 30 famílias, não apenas com os deveres de casa dos seus filhos, mas também dando suporte tecnológico com orientação para o uso das plataformas de ensino a distancia que as escolas públicas e particulares de bairro têm usado nesse momento. Contudo, isso ainda é pouco tamanhos são os desafios que a exclusão digital, econômica, social e tantas outras possíveis de se listar aqui, se apresentam. Se antes era desigual e absurda a diferença na educação entre os mais pobres e os mais ricos, agora é covarde chamar o que os filhos dos trabalhadores têm de educação. Se algo não for feito agora, muito em breve teremos uma gigantesca massa de mão de obra desqualificada para qualquer tipo de trabalho. É sempre bom lembrar que o que traz dignidade ao ser humano é o trabalho. Não importa se você varre o chão ou leciona em uma escola, o que te dignifica é poder cumprir com o seu expediente e no final do mês receber o seu salário e pagar suas contas sem ter que pedir nada a ninguém. É sob essa filosofia que a favela é criada desde cedo. Olhar e ver tantos desempregados, "desalentados", e agora a mais nova expressão, os "nem nens", jovens que nem estudam ou trabalham, me causam indignação, revolta e uma absurda coragem para a Luta.
Nossa equipe pensou num programa de nivelamento para ajudar as crianças, adolescentes e jovens da Maré a superarem essas barreiras. Mas precisamos de ajuda financeira para organizar o projeto. Além do reforço escolar pretendemos introduzir mais uma hora e meia de aula com os conteúdos perdidos nesse período em que estes estudantes estiveram parados por qualquer que fosse o motivo e prepará-los para a Vida que os espera, que pode ser diferente da de seus pais com muito mais oportunidades.
Ajudem-nos levar esperança a mais famílias, oportunidades a mais crianças, adolescentes e jovens e dignidade aos trabalhadores da Maré.
Doe qualquer valor ou adote um aluno por R$150,00.
"A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo." – Mandela
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